Mais um trabalhador do MST é assassinado no Pará
Por Daniel Francez - Belém (PA)
Na tarde de domingo (23), no
assentamento Mártires de Abril, na ilha de Mosqueiro, Belém, o companheiro
Mamede (55 anos) foi assassinado com dois tiros em seu lote.
Mamede estava trabalhando em seu
sistema agroflorestal quando foi brutalmente assassinado. O trabalhador e sua
companheira eram referências em produção agroecológica, em uma região de solo
arenoso e com baixa fertilidade.
Mamede conseguiu desenvolver diversos
sistemas de produção orgânica e integrados, consorciando a lavoura temporária
com a floresta, além da piscicultura, a criação da galinha caipira e a
apicultura, tudo isso sem recurso e apoio de políticas públicas.
O suposto autor do crime foi preso
momentos após o caso. De acordo com o cabo PM Rodrigues, Luís Henrique, 28 anos,
portando um revólver calibre 38 com seis munições e a numeração raspada, foi
apreendido em sua casa quando já ia fugir. Para a polícia, o líder do movimento
pode ter sido morto por motivo banal.
Contudo, não é novidade que a região
virou rota do tráfico de drogas e alvo de violência e de assaltos frequentes. O
crime organizado representa um poder paralelo que submete a população ao medo.
A polícia, ao invés de combater o crime com inteligência, age com truculência
contra os moradores pobres. Quando um grupo de trabalhadores foi à delegacia no
dia do assassinado o delegado do caso os tratou com absurda grosseria e os
expulsou da delegacia. Para os moradores dos assentamentos isso é rotina.
Dezenas de trabalhadores rurais e
lideranças de movimentos de luta pela terra e pela proteção ambiental são
vítimas de latifundiários, fazendeiros e madeireiros no Pará. Alguns casos ganharam o noticiário
nacional e até internacional, como o homicídio do casal de líderes
extrativistas José
Claudio e Maria do Espírito Santo em 2011, no município
de Nova Ipixuna (Pará), dois dias antes do assassinato do
assentado Herenilton Pereira no mesmo local.
Portanto, o latifúndio e a pobreza no campo são o pano de fundo deste
cenário, que só beneficia o agronegócio e o crime organizado. Agricultores
familiares e populações tradicionais que buscam modelos alternativos de
produção, tirando o sustento da terra respeitando o meio ambiente, em condições
das mais adversas, servem de referência e contraponto ao agronegócio, ameaçando
os interesses dos ricos e poderosos.
No enterro do companheiro Mamede, centenas de trabalhadores e ativistas
estiveram presentes prestando homenagens e solidariedade a sua família e a sua
luta. Oito companheiros do PSTU estiveram presentes. O companheiro Cleber
Rabelo (PSTU), eleito vereador de Belém, também esteve presente e compôs a
comissão que foi à delegacia para cobrar agilidade na apuração do crime e
respeito aos moradores dos assentamentos.
A luta e a vida do companheiro Mamede sempre será lembrada como exemplo
de persistência na busca de uma sociedade justa e igualitária, e a sua morte só
reforça a necessidade de fortalecer a luta no campo e na cidade.
MAMEDE VIVE!
PELO FIM DO LATIFUNDIO E TODO APOIO AOS COMPANHEIROS DO MST E A LUTA
PELA REFORMA AGRÁRIA E POR UM DESENVOLVIMENTO AGROECOLÓGICO NO CAMPO!