“Amanhã é 20 de novembro, há 318
anos um grito se escutou em Palmares, um grito de dor, um grito de libertação,
de revolta e esse grito até hoje ainda é escutado. 318 ano depois. E é o motivo
e o objetivo central de estarmos todos nós aqui, reunidos nesta tarde...”
Assim iniciou sua fala, Wellingta
Macêdo, do Movimento Nacional Quilombo Raça e Classe durante a sessão especial
realizada na Câmara Municipal de Belém (CMB), no último dia 19/10, por iniciativa
dos vereadores Cleber Rabelo (PSTU) e Sandra Batista (PCdoB). A sessão pôs em
debate o “Enfrentamento ao extermínio da juventude negra” às vésperas de mais
um dia nacional da consciência negra no Brasil.
Embora diversas secretarias
executivas municipais tenham sido convidadas, nenhuma autoridade do executivo
compareceu à sessão. Por outro lado lideranças religiosas, líderes
comunitários, artistas e capoeiristas atenderam ao chamado e lotaram a sessão. Que
iniciou com apresentação do grupo União capoeira, seguida do canto e da benção
de diversos pai e mães de santo, que invocaram a proteção de todos os santos.
Apesar de serem cerca de 52% da
população deste país, a população negra sofre com discriminação racial no
Brasil desde o tempo da colonização. De acordo com dados do Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), a cada quatro assassinatos no país, três
são de negros. E têm 3,7 chances a mais de serem vítimas de homicídio.
Em 2011, o número de negros
assassinados no Brasil foi quase três vezes maior do que o de brancos. Naquele
ano, foram 35.207 negros mortos, conforme pesquisa do (IPEA). No Pará, jovens
entre 15 e 24 anos, do sexo masculino, são as principais vítimas de homicídios,
segundo o Anuário de Segurança Pública, produzido pelo Fórum Brasileiro de
Segurança Pública.
De acordo com os dados apresentados na sessão, desde 2002, o índice de homicídios entre brancos caiu 26%. Na contramão, o homicídio de negros aumentou 30%. O negro também perde dois anos na expectativa de vida por ter mais chance de ser assassinado. Mais que o dobro comparado aos brancos. O medo de represálias e da própria Polícia Militar faz com que mais de 60% dos negros deixe de pedir socorro ao sofrer qualquer tipo de violência.
Para acordo com a coordenadora do quilombo Raça e Classe é
preciso fazer uma denúncia contra o genocídio do povo negro, principalmente contra
o genocídio da juventude negra. “O movimento está organizando, esse ano em todo
o Brasil, as marchas da periferia com o tema: Pelo Amarildos, da copa eu abro
mão! Nesse sentido estamos convocando toda a população de Belém e
principalmente do Bairro da Terra Firme para participarem da I marcha da
periferia de Belém, que ocorrerá neste sábado dia 23/11 na para Olavo Bilac, no
bairro da Terra Firme.
Por ocasião do Dia Nacional da
Consciência Negra, o vereador Cleber Rabelo (PSTU) e a vereadora Sandra Batista
(PCdoB) apresentaram projeto de emenda à Lei n° 8.296/ 2003, estabelecendo
isenção de IPTU aos Terreiros/ Casas de Religião de Matriz Africana
regularmente cadastrados no município de Belém. O vereador destacou que é importante lembrar
que o Estado é laico e que portanto assim como as demais religiões devem ser
respeitadas e tratadas de forma isonômica pelo Estado.
Os parlamentares apresentaram
também projeto de Lei que institui a Comenda “Pai Raimundinho”, em homenagem
aos cultos Afro- Brasileiros. A comenda faz referência ao umbandista mais velho
de Belém, “Pai Raimundinho”, filho espiritual do já falecido Zé Negreiro,
iniciou sua Pajelança aos 13 anos de idade e aos 15 anos já ajudava seu pai
espiritual no comando do Terreiro.
Hoje, aos 103 anos, “Pai
Raimundinho” desenvolve de forma ativa seus trabalhos espirituais, e tem uma
vida marcada pela prática da caridade e defesa das religiões de Matriz
Africana, o que o levou a ser conhecido em todo Estado do Pará, sendo procurado
por pessoas de várias localidades, em busca de auxílio espiritual. A honraria
deve ser entregue em sessão solene, em 18 de Março, Dia Nacional e Municipal da
Umbanda e dos Cultos Afro-Brasileiros.
O vereador que Rabelo também
destacou que no dia no dia 11 de Março deste ano, entrou com um Projeto de Lei,
que transforma o dia 20, Dia da Consciência Negra, feriado municipal. Contudo o
parlamentar lembro que no dia 24 de Abril um parecer da comissão de constituição
e justiça da CMB, arquivou o projeto alegando ser inconstitucional. “[...]Infelizmente nós ainda temos que
conviver com o racismo institucional, no dia que saiu o parecer da comissão eu
tive acesso a relatório, os cinco os integrantes da comissão, votaram de forma
unanime contra esse projeto, alegando ferir a lei nacional que dispõe sobre os
feriados civis, contudo é importante ressaltar que em todo o Brasil, 780 municípios
já tem a lei de feriado municipal do dia 20, no Pará dezenas de cidade também
consideram feriado o dia 20 e por que somente aqui é inconstitucional?[...]”
– questionou o vereador.
Cleber Rabelo lembrou ainda que apesar
de algumas conquistas históricas do movimento o povo negro não tem muito a
comemorar durante esses dez anos de governo do PT. “O lula quando chegou ao poder disse o seguinte eu vou fazer a reforma
agrária numa canetada só. E o que nós vimos não foi isso. São pessoas dormindo embaixo
de pontes, trabalhadores rurais sendo expulsos de suas terras e o agronegócio tomando
conta do nosso país. A soja sendo exportada pra ser ração de gado, enquanto
muita gente aqui passando fome. É necessário aqui fazer essa discussão por que
eu tenho certeza que muitos de vocês lutaram pra construir o Partido dos Trabalhadores
como uma esperança de uma alternativa. Por que o PSDB nós já sabemos de que
lado está, do lado dos patrões, dos ricos, da burguesia. Agora o PT nasceu
diferente, e trouxe uma perspectiva de mudança mas o que nós vimo se
concretizando foi diferente. Apesar do lula ter sancionado a lei 10.689/2003
que coloca que na escola tem que ter ensino de história e religião Afro-descedente,
ele vetou o artigo que destinava verba aos professores, ou seja é dar com uma
mão e tirar com a outra[...]
[...] O estatuto da Igualdade Racial foi fruto de negociata envolvendo
aquele corrupto Demóstenes Torres e tantos outros corruptos, que conseguiram que
fosse retirado as cotas, que foi retirado a regulamentação das terras
quilombolas, que foi retirado várias bandeiras históricas do movimento então
por isso nós não podemos fugir dessa discussão, por que era a esperança de
milhares de brasileiros e brasileiras negros e negras. A chegada do PT ao
governo e nós não vimos essa mudança se dar. Os ricos tem ganhado mais e os trabalhadores
com aquelas políticas compensatórias mínimas que não resolvem o problema da
desigualdade” – argumentou Cleber.
Nenhum comentário:
Postar um comentário